Entrevista com Julivan Ribeiro, Médico Infectologista

Com o início da pandemia da Covid-19, que já matou milhares de pessoas em todo o mundo, os olhares se voltaram para a produção e desenvolvimento de vacinas seguras e eficazes na imunização das populações e colocar um fim nessa crise global, gerada pelo vírus da SARS-CoV, conhecido como coronavírus.

Com isso, surgem algumas curiosidades e dúvidas de como acontecem os testes e os procedimentos na criação de uma nova vacina. De acordo com o noticiário, a previsão das autoridades governamentais é que a vacinação comece no primeiro trimestre e termine em dezembro de 2021. Em um breve momento, apenas uma parte da população será imunizada.

O médico infectologista, Julivan Ribeiro, é membro da Sociedade Brasileira de Infectologia e Coordenador do Núcleo de Controle de Infecção do Hospital de Base de Brasília (IGESDF). O Infectologista respondeu algumas perguntas sobre essa nova fase de vacinação, explicando como é o processo de criação e testes de uma vacina.

Revista Dirigente: Como é o desenvolvimento de uma vacina?

Dr. Julivan: O desenvolvimento de uma vacina costumava levar décadas, citando-se como exemplos, a vacina para catapora, sarampo, hepatite B, entre outras. Mas, em dezembro de 2019, o vírus SARS-CoV-2 foi identificado em Wuhan (China), como o causador da Covid-19. Antes de completar um ano já temos vacinas disponíveis em algumas partes do mundo para prevenir a Covid-19. Isso se deve não só ao emprego de novas tecnologias bem como a essa pandemia que está levando o mundo a uma crise sanitária sem precedentes.

Revista Dirigente: Como ela age no nosso organismo?

Dr. Julivan: Qualquer que seja a plataforma tecnológica usada na fabricação da vacina, o nosso organismo irá reconhecer essa proteína ‘estranha’ de forma a estimular a produção de nossas defesas, por meio de produção de anticorpos específicos. Caso ocorra esse contato com o vírus que causa a Covid-19, o nosso organismo irá reconhecê-lo e neutralizá-lo essa é a melhor forma de evitar a infecção.

Revista Dirigente: Mesmo depois da vacinação, a máscara ainda terá que ser usada?

Dr. Julivan: Sim, mesmo após a vacinação todos os imunizados precisarão continuar tomando as medidas preventivas. Nenhuma vacina até agora tem 100% de eficácia, além disso, não se sabe ainda qual é a duração da proteção da vacina. Os estudos futuros irão dizer isso.

Revista Dirigente: Quais são as vacinas que estão sendo testadas no Brasil?

Dr. Julivan: No Brasil, quatro vacinas estão sendo testadas. A da AstraZeneca com a Universidade de Oxford em parceria com a FIOCRUZ. A Pfizer/BioNTech; a da Janssen-Cilag, do grupo Johnson & Johnson. A da CoronaVac, em parceria com o Instituto Butantan. Infelizmente, até o presente momento, não temos nenhuma vacina disponível no Brasil. O método dessas vacinas são:

 – Vacina de vírus inativado: a vacina contém o próprio vírus morto e estimula o corpo a produzir as defesas. Está sendo usada no processo da vacina CoronaVac, da empresa chinesa Sinovac e em teste no Brasil pelo Instituto Butantan.

– Vacina de vetor viral: esse método é com o uso da proteína do coronavírus que é inserida em outro vírus modificado em laboratório que é transportado para o corpo humano e que não se multiplica, com isso, o sistema imunológico produz estruturas capazes de impedir a disseminação. Ex.: as vacinas de Oxford e da Janssen.

-Vacina de RNA: são inseridos ácidos nucléicos do coronavírus no corpo, auxiliando RNA e gerando anticorpos contra o vírus no organismo. Ex.: a vacina da Pfizer/Biontech e Moderna.

– Vacina Proteica: é a injeção da proteína S e de outras proteínas do coronavírus no corpo. Ex.: vacina da Noravax.

Revista Dirigente: A vacina funciona igual para todo mundo?

Dr. Julivan: Cada vacina tem sua eficácia e depende de alguns fatores sobre a resposta imunogênica (proteção), como, por exemplo, em idosos, pacientes imunossuprimidos, que fazem o uso de quimioterápicos podem não responder tão bem como em outros grupos. Na corrida por uma vacina eficaz e segura contra a Covid-19, o uso de plataformas diferentes aumenta as chances de bons resultados na imunização e, embora algumas tecnologias sejam novas, todas têm se mostrado promissoras.

Revista Dirigente: Por que se vacinar é tão importante?

Dr. Julivan: O desenvolvimento das vacinas é considerado uma das maiores conquistas para a humanidade. Diversas doenças infecciosas foram controladas por meio da vacinação. Nesse momento, não temos nenhum tratamento específico para tratar a Covid-19 e nossa esperança está na vacinação que está sendo aplicada em alguns países. Essa é a melhor tentativa de prevenção da doença e uma possível imunidade de rebanho.

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